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domingo, 13 de novembro de 2011

EILEITUNG ZU ARNOLD SCHOENBERGS “BEGLEITMUSIK ZU EINER LICHTSPIELSCENE” - (Introdução à "Música de Acompanhamento para uma Cena de Cinema" de Arnold Schoenberg) de Jean-Marie Straub e Danièle Huillet - 16.11.2011 - 19h30


(...) O historiador materialista, explorador das constelações, é um montador de tempos. Como é que esta ideia esclarece uma certa relação entre a música e o cinema? É que montar os tempos não é restituir a ilusão de um tempo linear, mas, pelo contrário, destrui-la para criar contrapontos ou dissonâncias temporais. Bach, ou Schönberg. Schönberg libertou a dissonância, isto é, uma concepção da composição musical como montagem. Porque também ele atravessou a história do século em constante dissonância; a sua vida e a sua obra compõem a figura de um herói do materialismo histórico.

Einleitung zu Arnold Schönbergs Begleitmusik zu einer Lichtspielszene (Introdução à ‘Música de Acompanhamento para uma Cena de Cinema’ de 'Arnold Schoenberg'”) é um filme-constelação e uma grande lição de história materialista. Straub e Huillet puseram em música a história do século, compuseram o equivalente cinematográfico de uma música atonal que, produzindo as dissonâncias da história a partir das dissonâncias de uma vida de homem e de artista, ainda conservava, em 1972, a última esperança de Benjamin: "libertar a criança do século das teias nas quais eles a enredaram".
Cyril Neyrat
in catálogo "cinematografia - musicalidade 1"
Lisboa, Novembro de 2011

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

ANTIGONE ou DIE ANTIGONE DES SOPHOKLES NACH DER HÖLDERLINSCHEN ÜBERTRAGUNG FÜR DIE BÜHNE BEARBEITEIT VON BRECHT 1948 de Jean-Marie Straub e Danièle Huillet - 03.11.2009


No interior de uma obra toda ela atravessada pela progressiva sedimentação de certos princípios e procedimentos essenciais, cada um dos filmes de Jean-Marie Straub e Danièle Huillet assenta numa forma de construção específica, determinada pelos diferentes materiais envolvidos e pelo próprio conjunto de regras e de constrangimentos face a eles definido pelos cineastas, propondo verdadeiramente um método singular, que outros poderão sempre depois eventualmente aprofundar e explorar. Ao nível do seu modo de estruturação formal, Antigone representa um prolongamento e uma ultrapassagem do trabalho desenvolvido e aperfeiçoado por Straub e Huillet ao longo de vários dos seus filmes relativamente à rigorosa definição de um ponto estratégico no espaço a partir do qual todos os diferentes planos possam ser filmados, assim estabelecendo uma perspectiva única para o seu conjunto e apresentando o lugar na sua materialidade própria. (...)
Em Antigone, a adopção do dispositivo de filmagem referido e o modo de fragmentação do espaço dele decorrente colocam frente a frente um lugar arruinado, atravessado por diversos estratos temporais e pelas marcas deixadas por diferentes períodos históricos, e o verdadeiro palimpsesto constituído pelas transformações exercidas sobre a tragédia de Sófocles pela tradução de Hölderlin e pelo posterior trabalho de Brecht, conjugando-se estas duas matérias, sem nunca perderem as suas autonomias respectivas, na criação de uma imagem plenamente dialéctica, na qual passado e presente passam a existir num semelhante nível de simultaneidade, iluminando-se reciprocamente.
João Nisa
in catálogo "cinematografia – teatralidade 1"
Lisboa, Outubro de 2009

quinta-feira, 25 de setembro de 2003

SICILIA! de Jean-Marie Straub e Danièle Huillet - 02.10.2003


(...) Straub e Huillet reflectiram profundamente sobre uma certa essência do cinema e é isto que explica a densidade daquilo que fazem: nos seus filmes, é enorme o peso de cada plano, cada imagem, cada som, sempre levados a um ponto de incandescência. E esta incandescência vem do facto deste ser um cinema literalmente materialista, preso ao que faz a matéria do cinema, radical e extrema: o que é um som, uma imagem, a luz, uma palavra, o que é um plano, um corte, um cenário, uma intervenção musical, o tempo cinematográfico. Em Sicilia!, as características deste cinema estão já depuradas, em todo o caso são menos árduas ou peremptórias do que em alguns filmes realizados por eles no passado, mas não são menos tensas e intensas. Fala em Sicilia! aquela “verdadeira violência” que Jean-André Fieschi, num texto antigo e já clássico, viu neste cinema.(...)
Antonio Rodrigues
O Olhar de Ulisses IV - Porto 2001
Resistência
in catálogo Temps d'Images 2003

OÚ GÎT VOTRE SOURIRE ENFOUI? (Onde jaz o teu sorriso?) de Pedro Costa - 02.10.2003


(...) Logo de início, naquela caverna, Pedro Costa tomou o seu lugar para filmar, nem de muito perto nem de muito longe, o casal que examina, incessantemente, as mesmas rushes, apurando nesse contacto as suas ideias sobre o cinema. E ele não se afastará dali porque este dispositivo permite-lhe captar do mesmo modo tanto os gestos do trabalho como a matéria (a imagem no monitor) que tem de ser trabalhada. Há que dizer uma palavra sobre este dispositivo: a câmara – e, portanto, o espectador – tem, no seu campo de visão, a mesa diante da qual trabalha Danièle Huillet. O monitor onde passa, bloco após bloco, Sicilia! está no centro do écran. À direita, há uma porta aberta que dá para um corredor dos laboratórios que bem podia ser o passadiço de um navio. São as duas únicas fontes de luz e, para o fim do filme, quando, com todas as luzes finalmente acesas, o monitor retoma a sua luminosidade branca e leitosa e a porta se abre simplesmente para um corredor pálido, ficamos surpreendidos com a banalidade do lugar.(...)
Émile Breton
L’Humanité, 15 de Janeiro de 2003.
in catálogo Temps d'Images 2003