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sexta-feira, 1 de novembro de 2013

THE SIXTEEN-MILLIMETER SHRINE de Mitchell Leisen - 07.11.2013 - 22h00


(...) Trata-se de um episódio da conhecida série de televisão americana The Twilight Zone (o quarto da primeira série). Ida Lupino é a "estrela" do filme, interpretando aqui uma actriz envelhecida que se alimenta da sua própria imagem passada, recusando-se a aceitar o peso dos anos. Como Gloria Swanson em Sunset Boulevard, Ida Lupino é uma "estrela" que recusa o tempo presente, daí as múltiplas aproximações deste filme ao grande clássico de Wilder.
 (...) É um filme que assenta na convocação de imagens de outros filmes para dentro do filme. Um filme que é igualmente marcado pela presença do próprio dispositivo, aqui simbolizado pela sala de projecção particular da actriz e pelas suas sessões continuas. "I don't play mothers" diz Trento ao seu agente antes de se encerrar em casa, criando uma protecção artificial face ao mundo exterior. Do mesmo modo, recusa-se a aceitar a realidade presente do actor com que contracenou há muitos anos. Trenton recusa o presente, mas estamos na "4ª dimensão", no território em que os desejos se tornam realidade, uma realidade que não abandona a profunda nostalgia do cinema.
Joana Ascensão
in "Folhas da Cinemateca"

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

MUTIRÃO de Leon Hirszman - 12.11.2012 - 19H00


Mutirão é o primeiro de um conjunto de três documentários agrupados por Leon Hirszman com o título “Cantos de Trabalho”, filmes que realizou entre 1974 e 1976. Os três centram-se sobre os cantos entoados por trabalhadores rurais no nordeste brasileiro(...). Mutirão foi filmado em Chã Preta, na região de Viçosa em Alagoas, durante a produção de S. Bernardo, uma longa-metragem de ficção de Hirszman que, tendo sido interditada pela censura, com os anos se tornou um clássico do cinema brasileiro. Como é explicado no início do filme, “mutirão” é o termo muito usado no Brasil para caracterizar movimentos comunitários que se baseiam na ajuda mútua prestada gratuitamente. É uma expressão originalmente associada ao trabalho do campo ou da construção de casas populares, em que todos colaboram sem hierarquias, que, na realidade, são os dois tipos de trabalho que vemos documentados neste filme de Hirszman, que assim acompanha todo o sentido da expressão. Mutirão regista o canto colectivo de um conjunto de “mutirões”, um canto que convoca com uma enorme mistura de influências: indígenas, europeias, africanas, que espelham as misturas culturais do próprio Brasil. (...)
Joana Ascenção
in "Folhas da Cinemateca"

domingo, 4 de novembro de 2012

L'INCONSOLABLE de Jean-Marie Straub - 09.11.2012 - 19h00


(...) “O Inconsolável” é um diálogo que se desenrola entre Orfeu, que acaba de regressar dos infernos, e Baca, que o questiona sobre o seu estado de espírito e seu amor por Eurídice. Este diálogo apresenta-nos uma versão inesperada do mito de Orfeu e Eurídice, em que Orfeu, na viagem de regresso do mundo dos mortos para onde partiu para resgatar Eurídice, decide romper voluntariamente com condição que a faria ressuscitar, devolvendo-a ao “reino do nada”. No livro e no filme de Jean-Marie Straub, em contraste com um Orfeu enamorado e profundamente infeliz, encontramos um homem lúcido, que prefere não trazer Eurídice para o mundo dos vivos face à inevitabilidade de esta ter de morrer uma segunda vez, uma vez que não há consolação possível para a morte. (...)

O modo como Straub filma [os] dois actores (...) é semelhante ao modo como filmara em Quei Loro Incontri e noutros trabalhos posteriores (...). O décor natural das colinas de Buti, na Toscânia, acolhe-os nas vestes “modernas” e nas suas poses predeterminadas, enquadradas de modo preciso e rigoroso. Impulsionando mais uma vez a colisão de temporalidades distintas (o presente dos actores e da natureza italiana é confrontado com o tempo mítico das suas personagens), Straub preserva e desenvolve aqui o essencial do seu cinema: a fidelidade e a importância do texto que quase é cantado por este par impressivo; a materialidade do real, expressa pelas manifestações naturais e pelos jogos de luz e de sombra que ancoram as imagens no mundo; a preservação de quadros definidos e de um número limitado de posições de câmara que permitem que, como escreveu Pavese no seu “prefácio” aos “Diálogos”, um “mesmo objecto” se revele num dado momento e nos pareça “miraculoso”. (...)
Joana Ascensão
in "Folhas da Cinemateca"