Mostrar mensagens com a etiqueta Kenji Mizoguchi. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Kenji Mizoguchi. Mostrar todas as mensagens

terça-feira, 3 de novembro de 2009

ZANGIKU MONOGATARI (Os Contos dos Crisântemos Tardios ) de Kenji Mizoguchi - 07.11.2009


(...) Recorramos a Gérard Legrand (Lumière, rituel, l'amour in Positif nº251, Fev. 1982) para notar a predominância dos décors horizontais que repetem a estrutura cenográfica do kabuki, por vezes atingindo a abstracção, de que são exemplo os planos em que durante uma das três representações teatrais do filme umas personagens olham para a câmara através de uma espécie de cortina em ripas que se interpõe entre elas e o ecrã como um véu que o atravessa em comprimento produzindo um efeito de scope. A predominância desta horizontalidade, favorecida pela estrutura da casa tradicional japonesa, permite a organização do espaço no interior do plano, particularmente evidente na sequência em que Kiku procura Otoku nos compartimentos do comboio, assumindo a câmara uma posição paralela à do personagem cujo movimento, descrevendo direcções contrárias, segue.  (...)
Maria João Madeira
Folhas da Cinemateca
in catálogo "cinematografia – teatralidade 1"
Lisboa, Outubro de 2009

segunda-feira, 22 de setembro de 2003

UTAMARO O MEGURU GONIN NO ONNA (Cinco Mulheres à volta de Utamaro) de Kenji Mizoguchi - 01.10.2003


(...)Mizoguchi não elide a natureza das relações entre Utamaro e as suas cinco mulheres. Para além das duas que já falei, Yukie (“a escola chinesa: inexpressiva”), Oshin, a mulher mais carnal, e Okita, aquela que levou às últimas sequências, mortais e vitais, a ética e a estética de Utamaro, aquela que, na vida, foi tão ao fundo como Utamaro o foi na pintura. Sabemos que foi amante de todas. Mas a posse total só se dá, quando todas elas se transformam em pintura, quando a criação erótica se funde com a criação artística.
Neste sentido, mais do que sujeito deste filme sobre um pintor, a pintura é objecto deste filme. Porque só na pintura está “a essência da mulher”, “a beleza de todas as mulheres” e porque a finalidade de todos os acontecimentos e de todos os movimentos é a imagem fixa, a imagem pintada, por isso mesmo a imagem nunca representada. E a única mulher de que não conhecemos imagem captada – Okita – é a que inscreveu na sua ética a estética de Utamaro, reclamando-se do seu exemplo para o duplo crime que cometeu.
Desta situação objectiva e da objectividade da imagem fixa, da pintura do filme, decorre a variável estilística de Cinco Mulheres à Volta de Utamaro, como caso único na obra de Mizoguchi.
João Bénard da Costa
Folhas da Cinemateca
in catálogo Temps d'Images 2003