(...) Straub e Huillet reflectiram profundamente sobre uma certa essência do cinema e é isto que explica a densidade daquilo que fazem: nos seus filmes, é enorme o peso de cada plano, cada imagem, cada som, sempre levados a um ponto de incandescência. E esta incandescência vem do facto deste ser um cinema literalmente materialista, preso ao que faz a matéria do cinema, radical e extrema: o que é um som, uma imagem, a luz, uma palavra, o que é um plano, um corte, um cenário, uma intervenção musical, o tempo cinematográfico. Em Sicilia!, as características deste cinema estão já depuradas, em todo o caso são menos árduas ou peremptórias do que em alguns filmes realizados por eles no passado, mas não são menos tensas e intensas. Fala em Sicilia! aquela “verdadeira violência” que Jean-André Fieschi, num texto antigo e já clássico, viu neste cinema.(...)
Antonio Rodrigues
O Olhar de Ulisses IV - Porto 2001
Resistência
in catálogo Temps d'Images 2003