(...) Adebar (1957), Schwechater e Arnulf Rainer constituem o que Kubelka chamou, a partir de meados dos anos 70, os seus “filmes métricos”, por oposição aos “filmes metafóricos” que englobam o resto do seu trabalho. Ritmicamente regulados à escala do fotograma, montados segundo constrangimentos matemáticos, os filmes métricos podem também ser lidos “entre as mãos”, ou a olho, como partituras. A redução do número de motivos, até ao simples batimento preto e branco de Arnulf Rainer, a sua repetição e a sua simplificação por efeitos de contraluz (Adebar), de fortes contrastes e de solidarizações (Schwechater) asseguram a legibilidade musical das fitas de fotogramas: o que se inscreve sobre a película terá sobretudo uma função de explosão rítmica. No entanto, e contra a classificação imposta por Kubelka à sua própria obra, bem como contra certos comentadores que afirmam por exemplo que em Schwechater “o objecto importa pouco, é intermutável” , é preciso repetir que “o motivo em Peter Kubelka é não-indiferente”. Não é indiferente que os flashes fotogramáticos de Adebar se encadeiem e se fundam em sacadas das silhuetas dos dançarinos - é toda a ambição desmesuradamente cinematográfica ou “coreográfica” do cineasta que aí se evidencia. Para Kubelka, o puro batimento preto e branco de Arnulf Rainer é também o relâmpago, a alternância do dia e da noite; e a vibração das imagens de Schwechater evocariam o frémito rítmico de um regato: cosmo-coreografia. (...)
Cyril Béghin
in catálogo "cinematografia – coreografia 2"
Lisboa, Outubro de 2008