Uma longa fila de corpos anónimos desfilam lentamente, às arrecuas, de baixo para cima do ecrã, onde são absorvidos pela obscuridade. Como se resvalassem para trás ou fossem descritas por uma interminável panorâmica vertical, as silhuetas deslizam e desaparecem sem nunca regressarem, engolidas por um negro fúnebre. Não se trata de uma cadeia, cada corpo é diferente dos outros, mas da vista parcial de uma sombria escada de Jacob. (...)
Forma minimal da maneira como o cinema agita corpos, pedindo-lhes uma simples comparência na fila indiana dos planos mais ou menos solidários, à escala da película. Necrology retoma isto pelo lado das trevas. É a linha geral fúnebre das imagens em movimento, ou um bizarro limite átono entre a multidão e o desfile, Griffith e Eisenstein, as escadarias de Babilónia e as de Odessa - depois da derrota.
Cyril Béghin
in catálogo "cinematografia – coreografia 2"
Lisboa, Outubro de 2008