quinta-feira, 6 de novembro de 2014

A VINGANÇA DE UMA MULHER de Rita Azevedo Gomes - 06.11.2014 - 21h30


(…) E admirável filme que se faz sobre esta história, talvez da única maneira que era possível filmá-la: preservando o “racconto” da duquesa como núcleo do filme, encenação que devolve à palavra (da duquesa) o seu papel essencial na disseminação da desonra (do duque) pelo mundo – esta mulher é como Nosferatu a espalhar a doença.

Admirável, também, Rita Durão, que aguenta com o corpo e a voz dois terços do filme, e o monólogo demencial que, por sua vez, lhe dá corpo. A câmara ronda, em travellings, panorâmicas e reenquadramentos (é um bailado e um duelo), o cenário, cheio de vermelho (é verdadeiramente “um filme de estúdio”, um filme do artifício dado como artifício), ameaça engolir tudo, os objectos, de rompante, revelam o seu significado cruel, e ela, a duquesa, cada vez mais fria e ao mesmo tempo, mais incandescente, domina a “mise en scène” do seu cerimonial de vingança, acentuando a que ponto ele mistura tudo, o ódio e o amor, o desejo de destruição e o desejo de auto-destruição. (…)
Luís Miguel Oliveira

in Folhas da Cinemateca