(...) A genialidade de Die Puppe vem-lhe de uma aliança muito feliz entre a exploração das tendências primitivas do cinema, o uso e abuso das potencialidades técnicas dos códigos do mudo, a veia burlesca e a influência pictórica, e, last but not least, os elementos próprios do universo Lubitsch. Assim se explicam as referências a este filme quase sempre combinando termos não necessariamente compatíveis, “um conto de fadas expressionista”, “um fantástico burlesco”, um filme onde coexistem “o caligarismo, Méliès e o desenho animado”, onde “se sentem os ecos da Alemanha romântica”, e onde “as sombras demoníacas do cinema alemão servem de motivo de riso”. Quanto à sensibilidade expressionista de Lubitsch, inexistente na tese de Lotte Eisner e visível na estilização e na mise-en-scène dos seus filmes deste período segundo o próprio Lubitsch, digamos apenas que alimentou discussões. Lubitsch nunca chegou à distorção expressionista, mas é inegável o facto de que, no mesmo ano de Kabinett des Doktor Caligari de Robert Wiene, utilizou em Die Puppe o que ficaria a ser conhecido como a tela pintada caligarista. (...)
Maria João Madeira
Ernst Lubitsch, ed. da Cinemataca
in catálogo "cinematografia – coreografia 2"
Lisboa, Outubro de 2008