Neste filme tudo está ligado, tudo ressoa, ecoa, se amalgama, se relança até à vertigem. Da primeira imagem, em que a extraordinária Kidman, de costas, deixa cair o vestido, nua, apenas o tempo de um relâmpago ou de um piscar de olhos, empoleirada nos seus sapatos como as figuras da festa que há-de vir, depois escurece e os olhos fecham-se, à última cena, em que se vê o rosto dela de frente, desfeito, formulando o desafio do fazer com, antes que o genérico do filme desfile, por inteiro, ao som da valsa de Chostakovitch. A valsa, e a sua conotação fatalmente vienense, apela para o seu pólo contrário, as notas inquietantes, suspensivas do piano de Ligeti, tal como a luz quente, dourada, sobressaturada do baile apela para e conjura os sons frios cujo expoente máximo é a morgue. Entre estes extremos há toda uma gama cuidada de uma combinação cromática que faz deste filme, na minha opinião, um dos mais belos filmes que podemos ver. (...)
Jean-André Fieschi
in catálogo "cinematografia – coreografia"
Lisboa, Novembro de 2007