quinta-feira, 25 de setembro de 2003

JLG/JLG - AUTOPORTRAIT DE DÉCEMBRE de Jean-Luc Godard - 02.10.2003


(...) Godard passa todo o filme a lembrar-nos “o que é o cinema”: imagens, sons, cores, música, ideias. “Numa palavra”, como se dizia em Pierrot Le Fou, “emoções”. JLG/JLG é simultaneamente um requiem e um canto de esperança, como se partisse da convicção de que se a “entidade-cinema” morreu, aquilo que é da ordem do cinema continua vivo e em permanente renascimento. Neste sentido, JLG/JLG é um filme exemplar na demonstração dessa vitalidade esquecida: exaltante na maneira como manipula as formas cinematográficas, como consegue criar “emoções” a partir da simples articulação de um plano com o som e com a música. Filme de síntese, JLG/JLG podia acabar com uma legenda a dizer: “o cinema é isto”. Ou seja, este breve murmúrio que de tempos a tempos nos vem sacudir e virar do avesso, com a violência de todas as paixões. Johnny Guitar, À Beira do Mar Azul ou... JLG/JLG.
Luís Miguel Oliveira
Folhas da Cinemateca
in catálogo Temps d'Images 2003