segunda-feira, 8 de novembro de 2010

LES YEUX SANS VISAGE de Georges Franju - 11.11.2010 - 19h30


(... ) O que paira sobre o cinema de Franju é a sombra de Louis Feuillade, em especial a capacidade de um e outro transfigurarem a imagem “real” numa outra de cariz fantástico sem a intrusão de elementos estranhos (recorde-se o fabuloso Les Vampires), apoiando-se apenas na criação de uma atmosfera especial com recurso aos artifícios da iluminação. O cinema de Franju é um cinema de “luz”, por muito pleonástica que pareça a afirmação. A luz é, mais do que um “personagem”, o elemento criador da tensão e do drama, e não deixa de ser curioso que o filme seguinte a Les Yeux Sans Visage tenha exactamente o título de Pleins Feux sur L' Assassin, sendo os “pleins feux” os holofotes, e o motor dramático da acção. A Feuillade vai Franju buscar, também, as características folhetinescas dos seus filmes, quando não os próprios argumentos: Judex, de 1963 não é uma nova versão do filme-folhetim de Feuillade, mas antes uma incursão na mesma atmosfera vaga e onírica, de onde a poesia irrompe da forma mais inesperada: a sequência das pombas em Judex retoma outra, bem mais conseguida e bela que vemos no fim de Les Yeux. É este clima que banha todo o filme que faz dele a melhor obra de Franju, ao lado da sua primeira longa metragem: La Tête Contre les Murs. (...)
Manuel Cintra Ferreira
Folhas da Cinemateca
in catálogo "cinematografia – teatralidade 2"
Lisboa, Outubro de 2010