No clima opressivo que se imagina, só, ignorado pelos seus compatriotas, que se obstinam em sonhar com um cinema perpetuamente futuro e perpetuamente abortado, até tarde na noite, nas esplanadas do Teide ou do Jijon, um jovem espanhol, fora de qualquer sistema, de qualquer grupúsculo, de qualquer influência, impressiona em 16mm, já que o cinema, para ele, não pode ser uma profissão, dilacerantes e calmos delírios em que se lê, melhor que em requisitórios, o estado de espírito de uma geração para a qual a poesia é, hoje em dia, o único refúgio e o único combate praticável. Chama-se Adolfo G. Arrieta, tem vinte e cinco anos, aprendeu cinema sozinho, como outros se entretêm com um qualquer Meccano ou coleccionam selos. Já fez vários filmes e o último em data, El crimen de la pirindola, é talvez, muito simplesmente, o acto de nascimento tão esperado de um cinema espanhol livre. (...)
Jean-André Fieschi
in catálogo "cinematografia – teatralidade 1"
Lisboa, Outubro de 2009
Lisboa, Outubro de 2009