(...) Pas de Deux faz parte de uma trilogia de filmes com Ballet Adagio, 1972, e Narcissus, 1983. Estes são exercícios fílmicos nos quais a expressão de uma forma muito específica e codificada de acção, o ballet, é abordada.
McLaren há-de declarar muitas vezes a sua devoção à dança sublinhando nela a dimensão do movimento:
"Every film for me is a kind of dance, because the most important thing in film is motion, movement. No matter what it is you’re moving, wether it’s people or objects or drawings; and in what way it’s done, it’s a form of dance."
Obviamente, quando falamos de movimento não estamos necessariamente a referir o voo das gaivotas, tal como quando falamos de pintura não nos referimos ao pôr-do-sol, diria outro animador para quem a expressão do movimento era essencial enquanto dimensão abstracta. O mesmo é verdadeiro quando falamos de um filme de Norman McLaren: é sempre questão de movimento.
A origem do movimento que vemos no ecrã em Pas de Deux, parece ter lugar no corpo dos bailarinos; parece provir da energia que tem origem no seu corpo. Assim é, de facto, quando aqueles dançam perante nós num palco. Nunca é assim quando aparecem num ecrã de cinema. Há uma série de procedimentos técnicos que, ao mesmo tempo que permitem o registo e permanência fotográfica das formas no tempo, as transforma em signos que integram modos de codificação os quais lenta mas seguramente se vão instituindo como norma. (...)
Marina Estela Graça
in catálogo "cinematografia – coreografia 2"
Lisboa, Outubro de 2008