Pollet faz parte, com Resnais, dos raros cineastas de quem se pode dizer que inventaram uma qualidade de movimento. Tal como se fala com razão do “travelling à la Resnais”, existe igualmente um “travelling à la Pollet”, que permanecerá a sua herança mais evidente.
Em Trois jours en Grèce, Pollet utiliza várias vezes o travelling linear e regular. Mas o movimento próprio deste filme é de uma terceira espécie, tão longe do deslizamento à distância quanto da agitação do pânico. É um movimento muito mais livre, sinuoso, que serpenteia sem que qualquer obstáculo o detenha, o impeça de avançar. Uma travessia oscilante, uma flutuação ondulada, que se insinua no mundo e nele desenha arabescos. (...) Um olhar dançado. (...) Em Trois jours en Grèce, terra e mar parecem confundir-se para uma travessia sensual e suave de paisagens, rurais e urbanas, ao contacto das quais a câmara aprende a dançar.
Uma das sequencias com o steadicam distingue-se como uma das mais belas de toda a obra, uma das mais belas coreografias urbanas da história do cinema. Atenas, à noite, estação do metro Omonia. A câmara sobe as escadas, serpenteia pelos subterrâneos, ao longo dos carris, do metro no cais. Os viajantes entram e saem das carruagens, atravessam o campo, de frente, de costas, de perfil. Toda uma azáfama humana que nunca perturba a progressão da câmara. O movimento é contínuo, a velocidade igual, a ligeira oscilação parece nunca dever parar. A câmara parece embalada por ondas invisíveis, embarcada como o gravador que não funciona para ninguém no bote amarelo do Horla. Os planos encadeiam-se, naquela flutuação, deslizam uns para dentro dos outros. Por duas vezes a câmara segue pelas escadas rolantes atrás dos viajantes, para subir para a cidade. Ao longo das mesas do restaurante, em volta do quiosque de um vendedor de salsichas, a flutuação continua, liga o subsolo e a superfície como dois aspectos do mesmo espaço infernal. (...) Pollet dá a ver o invisível, torna sensível a forma de uma cidade, o génio de um lugar, o seu espírito, a sua pulsação. (...)
O poder coreográfico liberta um movimento perpétuo, circular, a vasta “relojoaria do mundo” cantada por Francis Ponge. O cinema de Pollet, transportado pelo espírito da dança, atinge em Trois jours en Grèce, a amplitude de uma cosmogonia.
Em Trois jours en Grèce, Pollet utiliza várias vezes o travelling linear e regular. Mas o movimento próprio deste filme é de uma terceira espécie, tão longe do deslizamento à distância quanto da agitação do pânico. É um movimento muito mais livre, sinuoso, que serpenteia sem que qualquer obstáculo o detenha, o impeça de avançar. Uma travessia oscilante, uma flutuação ondulada, que se insinua no mundo e nele desenha arabescos. (...) Um olhar dançado. (...) Em Trois jours en Grèce, terra e mar parecem confundir-se para uma travessia sensual e suave de paisagens, rurais e urbanas, ao contacto das quais a câmara aprende a dançar.
Uma das sequencias com o steadicam distingue-se como uma das mais belas de toda a obra, uma das mais belas coreografias urbanas da história do cinema. Atenas, à noite, estação do metro Omonia. A câmara sobe as escadas, serpenteia pelos subterrâneos, ao longo dos carris, do metro no cais. Os viajantes entram e saem das carruagens, atravessam o campo, de frente, de costas, de perfil. Toda uma azáfama humana que nunca perturba a progressão da câmara. O movimento é contínuo, a velocidade igual, a ligeira oscilação parece nunca dever parar. A câmara parece embalada por ondas invisíveis, embarcada como o gravador que não funciona para ninguém no bote amarelo do Horla. Os planos encadeiam-se, naquela flutuação, deslizam uns para dentro dos outros. Por duas vezes a câmara segue pelas escadas rolantes atrás dos viajantes, para subir para a cidade. Ao longo das mesas do restaurante, em volta do quiosque de um vendedor de salsichas, a flutuação continua, liga o subsolo e a superfície como dois aspectos do mesmo espaço infernal. (...) Pollet dá a ver o invisível, torna sensível a forma de uma cidade, o génio de um lugar, o seu espírito, a sua pulsação. (...)
O poder coreográfico liberta um movimento perpétuo, circular, a vasta “relojoaria do mundo” cantada por Francis Ponge. O cinema de Pollet, transportado pelo espírito da dança, atinge em Trois jours en Grèce, a amplitude de uma cosmogonia.
Cyril Neyrat
in catálogo "cinematografia – coreografia"
in catálogo "cinematografia – coreografia"
Lisboa - Novembro de 2007