terça-feira, 4 de dezembro de 2007

TEA AND SIMPATHY de Vincente Minnelli - 14.12.2007


Os grandes melodramas realizados por Minnelli no fim dos anos 50 são uma maneira ideal de estudar o poder da coreografia que age no coração do cinema, independentemente da presença da dança como prática social ou artística.(...)
Nos grandes melodramas, a dança só desaparece para vir obcecar o movimento, ao longo de todo o filme. O mundo na sua totalidade é afectado, deformado pelo encanto invisível da dança, toda a encenação é manipulada por um poder coreográfico. (...)
É, em Tea and Sympathy (Chá e Simpatia), para começar, uma coreografia das cores, cuja circulação Minnelli orquestra, numa narrativa paralela à relação entre Tom e Laura: o azul passa da camisa, que o rapaz traz vestida no primeiro plano, para as flores que oferece, mais tarde, à mulher do professor, o amarelo rodeia-o e acompanha-o como cor de Laura, o verde ritma em pinceladas a sua relação cúmplice e amorosa até invadir o campo na floresta. Haveria que estudar a coreografia dos enquadramentos(...) para poder admirar a geometrização das linhas e da colocação dos corpos. O poder coreográfico manifesta-se, igualmente, nos inúmeros planos que parecem ter sido recuperados de uma comédia musical e cuja estilização se teria detido na fronteira da dança. Aquando da pyjama party, à luz de uma fogueira, os rapazes rodeiam Tom, para o humilhar, preservando-o do ritual da iniciação viril: esta espectacular cenografia circular parece preparar um número cantado, mas Minnelli detém a estilização antes da passagem dos gritos para o canto, da briga para a dança. Vestígios de uma cenografia de music-hall afloram, também, nos planos recorrentes em que a turba desportista atravessa o espaço, sobe ou desce as escadas a correr, como um rebanho assustado. A dança exerce os seus poderes mas não se torna realidade. (...)
Cyril Neyrat
in catálogo "cinematografia – coreografia"  
Lisboa Novembro de 2007