segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

O MEU CASO de Manoel de Oliveira - 13.12.2007


(...) Com seis anos de intervalo, Manoel de Oliveira em O Meu Caso (1986) e David Lynch em Twin Peaks, Fire Walk With Me (1992) trabalharam nesse ponto em que não se sabe se é a imobilidade que tende para a dança ou o inverso. Na primeira parte de O Meu Caso, um homem agitado aparece num palco de teatro, no momento em que sobe o pano. Explica que não faz parte do espectáculo, mas que decidiu tomar de assalto o palco para expor o seu caso, na sua opinião rico de lições para a humanidade. Enquanto se perde em infinitos preâmbulos, um funcionário do teatro vem ter com ele ao palco e suplica-lhe que parta – acabam por lutar um com o outro. Uma actriz muito pintada entra em cena e começa a declamar o texto da peça, antes de se aperceber da presença dos dois intrusos. Zangada por ter sido interrompida, ela interpela-os. Junta-se à confusão o autor da peça, acompanhado pelo resto da trupe e, por fim, até um espectador, antes da cortina baixar com dificuldade.
As asas do Anjo Exterminador de Buñuel adejam por sobre esta farsa inaugural. Cada personagem que entra em cena não volta a sair – pelo menos diante de nós. A fatalidade do não sair do sítio parece, todavia, ter menos a ver com as fronteiras do palco do que com um excesso de instinto territorial de cada protagonista. (...) Condenadas a não sair do sítio, as figuras de O Meu Caso só poderiam, assim, optar  entre calcificação e gesticulações frenéticas. Por outras palavras, ser estátuas (na quarta parte) ou marionetas (nas três primeiras).(...)
Hervé Aubron
in catálogo "cinematografia – coreografia
Lisboa - Novembro de 2007