domingo, 21 de setembro de 2003

O ACTO DA PRIMAVERA de Manoel de Oliveira - 26.09.2003


(...) o fervor e o amadorismo dos “actores” transmontanos revela- se mais rigoroso e comovente do que qualquer encenação pseudo- realista. Oliveira conjuga as lições de Rosselini e de Bresson antes de eles as levarem até às últimas consequências – sem falar dos vindouros J.M. Straub e D. Huillet. A sua própria obra futura retomará todas as apostas fortes do Acto da Primavera: a prioridade à palavra, a íntegra ponderada, a musicalidade, a metaforização, a fidelidade – que não exclui a manipulação estilística – ao “real” e às suas matérias, a denuncia da presença da câmara, a reconstituição pessoal das imagens “canónicas”, o tema da fé enquanto objecto de questionamento, etc. Todavia, embora em cada filme de Oliveira eu descubra novas audácias e uma renovada inventividade formal, poucos me confrontaram com uma forma tão forte e inédita: O cinema litúrgico – é um ateu o autor destas linhas.(...)
Saguenail
O Olhar de Ulisses III - Porto 2001
A Utopia do Real
in catálogo Temps d'Images 2003