(...) He Who Gets Slapped é um filme que não tem muitos paralelos possíveis na história do cinema. Lembramo-nos de Lola Montes, lembramo-nos de Face a Face de Bergman, lembramo-nos de O Anjo Azul de Sternberg, lembramo-nos de Os Clowns de Fellini, lembramo-nos de Salò de Pasolini, mas o registo é muito diverso dessas obras. Nunca, talvez, a irrisão humana se tenha expresso tão poderosamente como naquele plano em que, através da máscara do palhaço, os olhos de "Ele" revivem para o Barão, a identidade que "Ele" perdeu e só nessa hora - a da suprema vingança - volta a assumir. É quando "Ele" se torna "Eu" que a fera se liberta para desfazer tudo e todos, como se esse manjar macabro fosse a única expressão possível ao ódio acumulado por uma experiência de sofrimento para lá de todos os limites.(...)
João Bénard da Costa
Folhas da Cinemateca
in catálogo Temps d'Images 2003