quarta-feira, 30 de outubro de 2013

F FOR FAKE de Orson Welles - 05.11.2013 - 21h30



(...) F for Fake é [...] o filme mais anarquista (mais libertador, mas também mais incómodo) que alguma vez foi feito. A arte e os artistas, em termos de estatuto, e portanto de valor, são o alvo da desmistificação de Welles, arrastando consequentemente todo o circuito da “indústria da arte” (dos museus e galerias às universidades, passando pela crítica e pelos mercadores). (...)
“Por onde começar?”, interroga-se Welles no princípio do filme, consciente da vastidão de F for Fake. O problema não se põe só a ele, como é óbvio. Tentemos, para simplificar, ser descritivos. F for Fake é um documentário de montagem, um objecto compósito feito de “footage” pré-existente e de material que Welles rodou, normalmente consigo próprio, assumindo-se acima de tudo como “organizador” (ou, o que neste caso vai dar quase ao mesmo, como “prestidigitador”). (...)
Há duas verdades fundas neste filme sobre mentiras: uma é estética e é, simplesmente, um elogio da subjectividade, uma espécie de apelo a que, todos nós, criadores ou espectadores, reaprendamos a olhar, e, sobretudo, a que não nos esqueçamos do nosso próprio nome perante os nomes dos outros; a  outra é política, e uns anos mais tarde seria admiravelmente sintetizada por um poeta nova-iorquino: “não acredites em metade do que vês, e em nada do que ouvires”.

Luís Miguel Oliveira
in "Folhas da Cinemateca"