Gradiva é um filme sobre a gravidade, sobre o tempo aberrante de um movimento intransitivo concentrado no contorno de um gesto - um pé em grande plano que assenta no chão rochoso das ruínas de Pompeia. (...)
Em Gradiva todos os elementos na imagem participam na ideia de coreografia. A velocidade transformada das diversas passagens da imagem revela um mundo paralelo de acontecimentos que inauguram múltiplas intensidades do movimento (num fora-do-movimento como refere a realizadora). A repetição do gesto aumentado, provoca uma sensação de baixo-relevo - o contraste entre as texturas, o pé da jovem (em verdade duas actrizes diferentes) e a rocha das ruínas que pisa, o pó levantado pela dinâmica do gesto, o fremir da erva, o salto heróico do lagarto (que provoca uma verdadeira epifania cinematográfica), provocam uma dinâmica de cada imagem.
Gradiva inaugurou uma obra de cinema fulgurante baseada na serialidade, na exploração de um motivo - o passo, a marcha, a dança -, realizada em parceria com Régis Hebraud sob a égide de Eisenstein e Antonin Artaud, completando um ciclo de filmes realizados no México com os Índios Tarahumaras.
in catálogo "cinematografia – coreografia
Lisboa - Novembro de 2007