(...) A importância do cinema na música de [Bob Dylan] e na sua própria obra cinematográfica merecem ser reavaliadas. (...) Embora os filmes de, com ou sobre ele, formem uma filmografia esporádica, o cinema constituiu uma linha contínua na sua obra. Na superfície, há inúmeras referências e citações fílmicas disseminadas pelas suas canções. Mais profundamente, é a própria escrita, a poética de Dylan que, qualquer que seja o seu campo experimental, tem em si a marca do cinema, revela a sua influência essencial. Cantor, músico, poeta e pintor, Dylan é tudo isso, com a idade do cinema.
Por variadíssimas razões, Dylan preferiu esquecer a sua obra de cineasta (...) O fracasso de público e da crítica de Renaldo and Clara fere profundamente Dylan que decide então renunciar ao cinema. Até regressar a ele em 2003, discretamente, como que através de uma porta secreta: escrevendo o guião e interpretando o papel principal de Masked and Anonymous, realizado por Larry Charles. Nova incompreensão: a crítica despreza-o, o público fica indiferente – como se um grande cantor e poeta não se pudesse perder no cinema. Contudo, Masked and Anonymous merece que lhe dediquemos mais atenção: por detrás de uma aparência de esboço mal filmado, de parada de estrelas desempenhando os seus papeis em roda livre, esconde-se uma referência importante da obra de Dylan: uma meditação melancólica sobre o duplo destino de um país e de um artista, uma espécie de anti-filme com uma escrita sem dúvida desconcertante mas enraizada na tradição poética do patchwork carnavalesco e da farsa alegórica.
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Por variadíssimas razões, Dylan preferiu esquecer a sua obra de cineasta (...) O fracasso de público e da crítica de Renaldo and Clara fere profundamente Dylan que decide então renunciar ao cinema. Até regressar a ele em 2003, discretamente, como que através de uma porta secreta: escrevendo o guião e interpretando o papel principal de Masked and Anonymous, realizado por Larry Charles. Nova incompreensão: a crítica despreza-o, o público fica indiferente – como se um grande cantor e poeta não se pudesse perder no cinema. Contudo, Masked and Anonymous merece que lhe dediquemos mais atenção: por detrás de uma aparência de esboço mal filmado, de parada de estrelas desempenhando os seus papeis em roda livre, esconde-se uma referência importante da obra de Dylan: uma meditação melancólica sobre o duplo destino de um país e de um artista, uma espécie de anti-filme com uma escrita sem dúvida desconcertante mas enraizada na tradição poética do patchwork carnavalesco e da farsa alegórica.
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Cyril Neyrat
in catálogo "cinematografia - musicalidade 1"
Lisboa, Novembro de 2011