segunda-feira, 21 de novembro de 2011

THE LEOPARD MAN de Jacques Tourneur - 22.11.2011 - 19h00

 
Para cada um dos três filmes que realizou para Val Lewton (Cat People, I Walked with a Zombie, The Leopard Man), Jacques Tourneur  encontrou uma tonalidade e um ritmo singulares que se coadunam com o encadeamento das situações e com os percursos das personagens. Em I Walked with a Zombie Tourneur consegue manter quase a mesma tonalidade ao longo de todo o filme, definindo-se a sua melancolia essencialmente através desta forma de tratar num mesmo registo a morte e o amor, o medo e a alegria, os rituais mágicos e os momentos melodramáticos, como se tudo estivesse definido antecipadamente num universo onde os humanos são movidos por forças que os ultrapassam. É também o que demonstra The Leopard Man, com a metafórica bolinha pousada no repuxo de uma fonte, mas as forças invisíveis brincam aqui com maior crueldade com as personagens: como presas entre as patas de uma gato, são empurradas de instantes de angústia para instantes de acalmia, sem nunca saber de onde virá essa morte escondida nos interstícios de um mundo capaz de uma imensa doçura tanto quanto da violência mais fulgurante. Mais do que os dois filmes anteriores da série, The Leopard Man vive das rupturas, dos contrastes, das oscilações. E se I Walked with a Zombie se pode aparentar a um longo movimento sinfónico (que faria deste filme uma espécie de equivalente cinematográfico da Ilha dos Mortos de Rachmaninov), The Leopard Man seria antes uma série de variações a partir de um motivo claramente exposto na primeira cena e depois retomado três vezes antes de, no fim, todos os elementos serem reunidos num estranho requiem.
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A estrutura singular de The Leopard Man é pois, antes de mais, construída por sons. As suas múltiplas variações dão a impressão de uma fatalidade implacável que torna o filme profundamente triste: tudo se transforma mais ou menos em ecos e as personagens ficam como que prisioneiras dessa constante ressonância das situações e dos objectos entre si. (...)
Marcos Uzal
in catálogo "cinematografia - musicalidade 1"
Lisboa, Novembro de 2011