segunda-feira, 10 de novembro de 2014

SABOTEUR de Alfred Hitchcock - 10.11.2014 - 19h00


(...) "Na sua digressão pelos locais turístico e icónicos da América, Hitchcock conseguiu meter as suas personagens na Radio City Music Hall. O público parece divertir-se muito com uma farsa de alcova não muito espirituosa. O amante não pode ser descoberto pelo marido. Gargalhada. O marido entra e puxa da pistola. Mais gargalhada. Toda a gente pensa ser uma comédia embora se esteja claramente a transformar em algo de diferente. Entretanto,  o sabotador, um Norman Lloyd muito sinistro, está a ser perseguido pela polícia no teatro. Também ele tem uma arma. O sabotador, tentando sair do teatro cercado, foge para o palco atrás do ecrã. A sua imagem escura surge muito pequenina frente ao close-up gigantesco no ecrã do cinema. Ouve-se um tiro. Todos depreendem que vem do filme e, portanto, riem-se. Excepto o homem que apanhou com a bala do sabotador, e a mulher, que grita. De repente, toda a gente se apercebe que não se sabe quais os tiros que são verdadeiros e os que pertencem ao filme que estão a ver. Pânico geral. O filme continua. Ouvem-se, no meio daquele pandemónio, falas dispersas do diálogo do filme. “Foge, foge, por amor de Deus! Foge daqui!” “Enlouqueceu, enlouqueceu!” “Saiam! Saiam!” De repente, estas ordens que, originalmente, eram das personagens do filme, aplicam-se, agora, também ao público. A comédia, que não era assim tão divertida, transformou-se em algo trágico e perigoso. O público precipita-se para as saídas. O filme dentro do filme transforma-se instantaneamente, tal como acontece sucessivamente com os filmes de Hitchcock, em algo que passa do humorístico para o aterrador.”(...)

Mark Rappaport
in catálogo “cinematografia-cinematografia"