sexta-feira, 1 de novembro de 2013

STANDARD GAUGE de Morgan Fisher - 07.11.2013 - 22h00


(…) Standard Gauge é o relato autobiográfico de alguns anos de carreira cinematográfica do seu autor. Essa é pelo menos a sua forma e o seu propósito ostensivo.
O material do filme é composto por fragmentos de película em 35mm, uma largura conhecida como formato padrão (standard gauge) e coleccionados pelo seu autor enquanto trabalhava aqui e ali na indústria cinematográfica. Os fragmentos são uma miscelânea que incluem filmes narrativos, trailers, newsreels, filmes comerciais e outros pedaços de película.(…)
Standard Gauge é uma espécie de colagem ou de found-footage. Mas em vez de ser montado e projectado, ou seja reavivado, tal como nos filmes de Bruce Conner, os fragmentos de filme em Standard Gauge mantém-se autónomos e são apresentados um a seguir ao outro para os espectadores os inspeccionarem como pedaços inertes de filme, objectos translúcidos feitos de celulóide. Os espectadores experimentam a sensação de manipular e organizar o material fílmico.(...)
O dispositivo principal do filme, uma série de grandes planos de material fotográfico com um comentário em voz off, tem suficientes semelhanças com Nostalgia e recorda-nos Hollis Frampton. As perfurações, as letras nas margens e as partículas de sujidade bem como imagem da China Doll recordam-nos Owen Land (anteriormente conhecido como George Landow). E Paul Sharits quando os fotogramas têm uma côr sólida. O plano longo pode ser entendido como uma referência a Ernie Gehr bem como a Warhol. Suponho que o logo da 20th Century Fox possa ser percebido como uma alusão a Jack Goldstein, que não foi um realizador como os outros, mas um artista que fez filmes como parte da sua prática - um deles era uma adaptação de outro logo de um estúdio de Hollywood, o leão da MGM.
Também pensei em alguns pintores. Ed Rusha está presente no logo da 20th Century Fox, Brice Marden no logo da Movielab, Adolf Gottlieb nas duas formas num pano de fundo que deve ter sido criado por acaso num laboratório de filme, Ellsworth Kelly no fotograma azul forte e Barnett Newman no fotograma azul forte excepto na banda branca vertical no canto direito.(...)
Na primeira projecção do filme alguém comentou que existem muitas coisas sobre a morte no: o acidente do Hindenburg, a execução de um oficial fascista, um realizador que planeia fazer um filme em que vemos pessoas a morrer, a morte de um soldado em material retirado de um jornal de actualidades, a morte figurativa da decadência da película em nitrato e os sinais da passagem do tempo evidente em tantos dos fragmentos mostrados. Um dia vão suspender o stock de película a preto-e-branco e produzir apenas película a cor. Depois vão descontinuar o 16mm. Suponho que o mesmo aconteça ao 35mm mas esse dia ainda vem longe.
Gostava que existisse uma forma de relacionar esta presença da morte em Standard Gauge com o facto do filme ser num único take. Talvez a relação esteja no facto do take longo nos permitir experimentar o tempo real e a continuidade do espaço que implica. O tempo real é o tempo em que vivemos e isso significa que é também o tempo em que morremos.

Morgan Fisher
sobre Standard Gauge (excertos)