domingo, 13 de novembro de 2011

SPARE TIME de Humphrey Jennings - 16.11.2011 - 22h00


(...) O hino nacional, a música do baile, a fanfarra, o coral de Haendel... Se Spare Time não fala, é, em todo o caso, um filme que canta. A cada sector industrial as suas árias em que todos têm o mesmo papel e ocupam o mesmo lugar. Aberturas de oratórios de certo modo: introduzindo a sequência, a música marca o tom.  Marca o do som e da imagem, vemos e ouvimos a fanfarra engalanada dos mineiros, a orquestra de kazoos dos operários do algodão ou o coro barroco do aço. E, sempre, a música abandona a sua própria imagem, parte para acompanhar outros planos, aqui um par de namorados, ali crianças que brincam na rua, além transeuntes, famílias... Acompanhamento a ser visto, aqui, como algo de cúmplice, como o “air-copain” de que fala Léo Ferré a propósito daquelas canções que andam na moda e nos acompanham no nosso quotidiano. Esta música que corre quando correm os planos dos trabalhadores nos seus momentos de prazer não está ali para acompanhar a dramaturgia do filme. Aqui ela trilha o seu caminho em paralelo com as imagens, segue a sua linha como as imagens seguem a sua, em perfeita sintonia uma com a outra. A isto se chama-se contraponto.(...)
Renaud Legrand
in catálogo "cinematografia - musicalidade 1"
Lisboa, Novembro de 2011