No seu excelente ensaio sobre Kenneth Anger, publicado em 1999, Olivier Assayas assinala com agudeza a filiação de Kenneth Anger ao cinema mudo americano, onde o espectador pode ver outras coisas através daquilo que é mostrado. Esta filiação ao cinema mudo é sublinhada pelo facto de todos os filmes de Anger serem mudos, mais exactamente sem diálogos, sendo-lhes sobreposta uma rica banda musical, que raramente é composta por música especialmente feita para o filme em questão. Grande montador (quando se pensa que em inícios dos anos 50 Henri Langlois quis confiar-lhe a montagem/reconstituição de Que Viva México!, um filme que tinha tudo para o fascinar e estimular...) e por conseguinte mestre do ritmo, Anger faz da música que insere nos seus filmes (clássica, de variedades, rock) um elemento da montagem. (...)
Antonio Rodrigues
Folhas da Cinemateca
Folhas da Cinemateca
in catálogo "cinematografia - musicalidade 1"
Lisboa, Novembro de 2011