segunda-feira, 1 de novembro de 2010

DIE MARQUISE VON O... de Eric Rohmer - 06.11.2010 - 19h00

Ele parte para Nápoles e “se voltar de Nápoles e se, daqui até lá, as informações recebidas acerca dele não desmentirem a impressão geral que te causou, como poderias, se ele voltasse a apresentar o seu pedido, declarar-te?” Acabámos de viver um episódio da guerra durante a epopeia napoleónica, a História desenrola-se diante dos nossos olhos. O conde F..., oficial do exército russo que ataca M..., cidade da Alta Itália, salva a filha do governador de ser violada. Os culpados são fuzilados. Depois de ter sido dado por morto em combate, o conde aparece ao governador e quer saber, antes de ser enviado de regresso a Nápoles, se pode aspirar à mão da marquesa.
    Heinrich von Kleist, com esta pergunta da mulher do coronel à filha - “como declarar-te?” - adensa ainda mais o enigma. Quem pensa o quê? Quais são os sentimentos íntimos da marquesa para com o seu salvador “surgido como um anjo do céu”?
    A escrita de Kleist, quase desinteressada ou distraída (como se o texto se tivesse enredado no fumo espesso dos combates do início do filme) e a estrutura da narrativa fazem lembrar mais uma peça de teatro: instala-se o cenário, descreve-se as atitudes das personagens, os diálogos sucedem-se. Tensão, oposição, golpe de teatro e mudança de acto. (...)
Tanto o romance como o filme tiram partido de um ambiente perturbador para chegar a algo de anti-sentimental. As personagens agem, movem-se com paixão e, ao mesmo tempo, têm o sentido do dever, da honra, uma vontade de contenção. (...)
Philippe Fauvel
in catálogo "cinematografia – teatralidade 2"
Lisboa, Outubro de 2010