domingo, 7 de novembro de 2010

CÉLINE ET JULIE VONT EN BATEAU de Jacques Rivette - 09.11.2010 - 22h00


Jacques Rivette é, entre os representantes da Nouvelle Vague, aquele cuja obra tem tido menos divulgação entre o público. (...) Desta primeira fase da sua obra, Céline et Julie Vont en Bateau pode considerar-se o mais legível dos seus filmes, numa história que mistura golpes de teatro rocambolescos à maneira dos primitivos filmes de episódios de Louis Feuillade, os gags de Max Linder e os melodramas de mistério. Céline e Julie “vont en bateau” à deriva pelos primitivos tempos do cinema. E Rivette, ao leme, não tem por preocupação a análise ou reflexão sobre esse cinema. Como toda a deriva não tem um fim em si, limita-se ao prazer de contemplar e, sempre que possível, participar, rever, voltar ao princípio num percurso circular. A legenda que repetidamente surge e que divide os sucessivos episódios (“Mais le lendemain matin...”) serve mais para sublinhar essa circularidade do que para fazer progredir a acção, se assim se pode chamar a esta intricada rede de referências.
Céline et Julie Vont en Bateau concretamente o que representa? É um filme fantástico? De suspense? Uma farsa? Um melodrama? (...)  Será, antes de mais, um jogo de ilusões e, portanto, de magia. (...)
Manuel Cintra Ferreira
Folhas da Cinemateca
in catálogo "cinematografia – teatralidade 2"
Lisboa, Outubro de 2010



Aos olhos dos esforços outrora empreendidos por Tzetan Todorov para distinguir o fantástico e o maravilhoso, o filme de Jacques Rivette, que vai buscar, ao mesmo tempo, o nonsense maravilhoso de Lewis Carroll, a inquietante estranheza de um Henry James, o folhetim popular cinematográfico de Louis Feuillade e o fantástico de Adolfo Bioy Casares, para apenas citar estes, deveria surgir como um puro escândalo de “inclassificabilidade”. (...)
Teatro, sonho, magia, feitiçaria, substâncias alucinogénicas, cabaret, efabulação, imposturas, brincadeiras de crianças (1-2-3 macaquinho do chinês), jogo de palavras, jogo do espelho e muitos mais: todas as formas possíveis e imagináveis da efabulação que se podem encontrar em Céline et Julie vont en Bateau. Tudo isto como que saído da maravilhosa tralha de uma velha arca de brinquedos (...)
Emmanuel Siety
in catálogo "cinematografia – teatralidade 2"
Lisboa, Outubro de 2010