domingo, 21 de setembro de 2003

OS CANIBAIS de Manoel de Oliveira - 26.09.2003


(...) Os Canibais é um filme que oscila entre a ópera (o início) e algo de indefinível que tem a ver com a ópera-bufa e o fantástico-horrífico; seja como for, algo de nunca visto. Oliveira encomendou a composição desta ópera – o filme é totalmente cantado – a João Paes (que dirigiu muito tempo a Ópera de Lisboa e a quem se deve a música da maior parte dos filmes de Oliveira) segundo um conto português do século XI, de Álvaro Carvalhal. Num prólogo muito buñueliano, o povo, amontoado por detrás de umas barreiras, aplaude a chegada, numas esplêndidas limusinas, daqueles aristocratas vaidosos enquanto o apresentador, cantando, nos avisa de que “esta história gosta de sangue azul, gosta da aristocracia” e que aqueles que tiverem de o ouvir deverão participar com ele na “peregrinação através da alta sociedade, aquela que canta em vez de falar” . Neste momento, o espectador, ligeiramente inquieto, que não sabe muito bem em que pé dançar, não pode ainda imaginar até que ponto a sua inquietação tem razão de ser.(...)
Alain Bergala
Cahiers du Cinéma, nº409, Junho de 1988
in catálogo Temps d'Images 2003